NARCISO ACHA FEIO
Por Alderizio Catarino dos Santos,O jornal O Globo do dia 5 de Novembro de 2009, em reportagem de página cheia, traz longa matéria com diversas opiniões de personalidades além de políticos sobre a entrevista concedida ao Estado de São Paulo com as críticas de Caetano Veloso ao Presidente Lula e o seu apoio declarado a pré-candidatura da senadora Marina Silva (PV-AC) à Presidência.
Na entrevista, Caetano disse que Marina é uma mistura do presidente brasileiro com o americano Barack Obama, mas melhor, diz ele, “porque não é analfabeta como o Lula”.
Na reportagem, tentando passar uma idéia definitiva, o jornal coloca diversas opiniões - a favor e contra - de outros artistas como Wagner Tiso, Carlos Lyra, Adriana Calcanhoto, Nelson Mota, além da opinião de políticos e da própria Marina.
O que levaria o poderoso Globo a dar destaque a uma matéria deste porte, reconhecidamente preconceituosa, contra o Presidente da República. Qual o interesse “jornalístico” em manter uma polêmica deste tipo? Será que a opinião do senhor Caetano Veloso é tão importante para a sociedade brasileira que mereça tamanho destaque ou há outros interesses em jogo?
Nos velhos tempos dos festivais da canção, os jornais não davam tanta importância às opiniões políticas desse artista. Então, o que mudou? Quantos diplomas universitários possui o entrevistado? É catedrático ou PhD de qual matéria? Se não possui todos esses títulos, como pode chamar alguém de analfabeto e isto significar tanto para um jornal?
Como muitos dos meus amigos, sou da geração que ouvia e cantava Vandré, Chico Buarque, o próprio Caetano, Gilberto Gil e outros que despontavam nos grandes festivais. O Caetano berrava ao microfone que “é proibido proibir” e nós “caminhávamos contra o vento, sem lenço e sem documento” em passeatas contra a Ditadura Militar. Corríamos em “disparada” da cavalaria da PM e continuávamos dizendo que “esperar não é saber”. Por tudo isto, muitas Marias e Clarices choraram. Foi um tempo de grandes artistas na resistência, que embalavam os nossos sonhos e utopias. Lutávamos contra o autoritarismo do regime e muitos brasileiros partiram num rabo de foguete. Desde esses tempos, a atual Ministra Dilma Rousseff já combatia o autoritarismo e as desigualdades sociais no Brasil. Alguns militantes destas causas estão desaparecidos, até hoje.
Lutávamos por democracia, liberdade de imprensa, estado de direito, saúde, educação, direito de greve, eleições diretas, anistia política, demarcação das terras indígenas, retorno dos exilados e outros direitos constitucionais abolidos por atos institucionais dos militares. “Que sufoco”!
Naquela época, O Globo, o Estado de São Paulo, a Folha de São Paulo e outros menos cotados apoiavam descaradamente o regime militar e seus atos. Era a época do “Brasil grande” e do “ame-o ou deixe-o”.
Dos artistas citados, Geraldo Vandré foi uma das maiores vítimas do período mais duro. Chico Buarque foi morar na Itália e os baianos Gil e Caetano foram obrigados a conviver com o frio londrino. Esse tempo já ficou prá “traz do trio elétrico” e o “mano Caetano” achou mais cômodo passar para “o lado que é lá do lado de lá”, o lado da elite conservadora! E, junto com o seu novo amigo Fernando Henrique Cardoso, que “só dá chá dançante onde o povo não é convidado” passeia de braços dados a criticar o Governo Lula e o PT, mas agora ele recebe forte apoio daqueles mesmos jornais. Quem te viu!
Fernando Henrique e Caetano Veloso se acham! Consideram-se os únicos grandes intelectuais da atualidade brasileira e, por isso, julgam-se superiores, mas, muitas vezes proclamam verdadeiras asneiras como se fossem novidades acadêmicas.
A última entrevista do FHC ao Globo (para variar!) é de uma mediocridade sufocante. Dignas de um tucano no ostracismo e um artista sem platéia.
É bem provável que, fazendo mais algumas dessas declarações contra o Lula, o senhor Caetano Veloso consiga “encaixar” uma música sua como tema da próxima novela global, voltando ao estrelato. E não nos surpreenderemos se surgirem alguns novos shows, no Canecão ou, mais provavelmente, em São Paulo, com patrocínio do governo do Estado. Foi com esse objetivo que ele deu a entrevista!
E só devemos lamentar que FH não saiba tocar tamborim. Assim poderia acompanhar o tropicalista pelo Brasil a fora, formando uma dupla sertaneja de quinta categoria para cantar nos comícios da Marina ou Serra.
Enquanto isto o povo brasileiro, o presidente Barack Obama e os demais líderes do mundo reconhecem o carisma, o talento e a competência política do Presidente brasileiro. A pobreza está diminuindo e o Brasil está crescendo, a inflação sob controle, os juros estão baixos e o dólar também, o salário mínimo aumentou e não precisamos do FMI para controlar nossas finanças ou ditar regras, o Brasil é lindo, divino e maravilhoso!
Certamente que isto causa inveja e muita raiva naqueles que não suportam o sucesso do Brasil conduzido por um operário, sem diploma de nível superior, que não fala inglês, não conhece partituras musicais e que está conduzindo o País, muito melhor e com reconhecimento internacional do que foi o Governo do “professor aposentado” do PSDB.
A qualidade da obra musical do Caetano é indiscutível. No entanto, o seu posicionamento político atual é exageradamente conservador e suas avaliações e declarações políticas são simplesmente medíocres, preconceituosas e dignas de um “maluco beleza”, que mistura chiclete com Copacabana e acha que todo menino do Rio apaixonado é filho do Zé Carioca.
Se encontrar um pobre de Santo Amaro da Purificação inscrito no Programa Bolsa Família, fazendo uma refeição, o mano baiano é capaz de ter nova recaída reacionária transcendental de direita e morrer de susto, de bala ou vício.
Para evitar essa tragédia é melhor levá-lo prá uma rezadeira e amarrar uma fita do Senhor do Bonfim em seu pulso.
Alguma coisa acontece e há atenuantes a favor do senhor Caetano. Afinal de contas, foi ele mesmo quem escreveu e cantou que “Narciso acha feio o que não é espelho”... e o seu espelho deve ser o “príncipe dos sociólogos”!
Se o intelectual alemão Bertolt Brecht estivesse vivo garantiria ao senhor Caetano, com a mais absoluta certeza, que o Presidente Lula não é, não foi e nunca será um analfabeto.
E, pacientemente, ensinaria ao compositor baiano que o pior analfabeto é o analfabeto político.
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