terça-feira, 29 de setembro de 2009

O PT e a candidatura própria – nossa posição

Por Val Carvalho


As mudanças implementadas pelo governo Lula têm sido graduais e negociadas, embora o seu ritmo tenha se acelerado no segundo mandato. Apesar desse gradualismo, não se pode negar que as eleições presidenciais de 2002 e 2006 representaram também rupturas determinadas do Estado e do sistema político dominante. Ambos os processos eleitorais foram precedidos por acúmulos políticos por parte do PT e das esquerdas que, depois das vitórias respectivas, abriram caminho para avanços reais. A próxima eleição presidencial, de 2010, não será diferente, a não ser num aspecto: a resistência conservadora da direita e da grande mídia, representantes das elites oligárquicas, será ainda maior. Usarão desesperadamente todos os meios legais e ilegais para tentar impedir a continuidade de Lula sem Lula, já que isso expressaria a consolidação do Projeto Nacional democrático e popular nos planos político e institucional. Na esfera da economia essa consolidação ficou claramente demonstrada pelo vigor com que o modelo econômico nacional-desenvolvimentista resistiu à crise financeira mundial – quando o Brasil foi o último país a entrar na crise e o primeiro a sair dela.
A sucessão presidencial reflete, portanto, o profundo conflito de classes, opondo, de um lado, o presidente Lula, a frente de centro-esquerda e o povo e, de outro, a direita demo-tucana, a grande mídia e as elites oligárquicas, particularmente as de São Paulo. Diante das ações desesperadas do bloco conservador da oposição e grande mídia, como a fabricação de denúncias vazias, de falsas crises e CPIs, o PT e as forças populares não podem ter ilusões nem muito menos baixar a guarda. Essa é a natureza perversa do momento político que estamos vivendo. Qualquer análise ou debate que se pretenda sério não poderia deixar de partir dessa situação política concreta.
O Diretório Nacional do PT já definiu a estratégia do partido para as próximas eleições: a construção em torno da candidata do PT, a companheira Dilma Roussef, de uma ampla aliança de centro-esquerda, principalmente com o PMDB. Todos os setores do PT, ou pelo menos a sua quase totalidade, já se manifestaram favoráveis a essa candidatura e política de aliança. Como regra, a tática eleitoral nos estados não pode se contrapor à estratégia nacional sob pena de colocar em grande risco o objetivo maior de nosso povo: a continuidade de Lula sem Lula. Aliás, o esforço estratégico principal da direita e da mídia é precisamente o de inviabilizar a aliança entre o PT e o PMDB. Manipulam, para isso, as contradições existentes nos estados, entre os dois partidos e dentro de cada partido da frente. Estimulam divisões, candidaturas auxiliares e nomes alternativos (que chamam de “plano B”), tudo para afastar o PMDB de Lula, de Dilma e do PT.
Os debates sobre a tática eleitoral nos estados – para os quais ainda há espaço no PED, no Congresso Nacional do PT em fevereiro próximo e nos Encontros estaduais que se seguirão – refletem, inevitavelmente, as contradições eleitorais regionais. Nem sempre será fácil a priorização do interesse nacional do PT em prejuízo de interesses de segmentos partidários. São nesses momentos, no entanto, que um partido mostra a sua capacidade de liderança estratégica. A natureza do PT é a de um partido nacional. Temos a presidência da República e formulamos o Projeto Nacional. Disso decorre que cabe ao PT a responsabilidade pela hegemonia no processo de mudanças. Cada petista precisa assumir também essa responsabilidade em qualquer lugar do país onde exerça a sua militância partidária. Além disso, para agirmos de fato como um partido nacional, tal responsabilidade hegemônica tem que perpassar todos os debates nos estados,
Foi dito acima que, como regra geral, a tática não pode se contrapor à estratégia, essa é uma verdade aceita. Mas como em toda a regra, também nessa há exceções. Há estados em que os conflitos entre o PT e o PMDB são insuperáveis para ambas as partes e, por isso, não afetam tanto a aliança nacional. Esse não é o caso do estado do Rio de Janeiro. Por mais críticas que tenhamos a diferentes aspectos do governo de Sérgio Cabral, elas não são suficientes para fazer o PT ir para a oposição, pelo menos essa é a visão preponderante no PT nacional e estadual. O governador Sérgio Cabral apoia Lula desde o 2º turno das eleições de 2006 e, a partir daí, se torna o principal aliado do presidente no PMDB. O Diretório Estadual do PT aprovou a participação do partido no governo. O estado se tornou o grande beneficiário dessa aliança, já ocupando o primeiro lugar nos investimentos federais. O PT estadual também cresceu nas eleições municipais de 2008, elegendo 10 prefeitos e 9 vice-prefeitos e 64 vereadores. Além de todos esses aspectos relevantes, o fortalecimento do estado faz dele o contraponto a São Paulo. Isso tem enorme importância para o Projeto Nacional que Lula e o PT defendem.
Diante desses avanços concretos como é justificado o rompimento com o PMDB e a “candidatura própria” no estado? À exceção do tradicional sentimento petista da “candidatura própria”, especialmente em nosso estado, não se apresenta uma justificativa consistente e profunda para o rompimento. Fala-se numa “frente de esquerda”, mas tal frente não se forma num estado, mas num país e também não é a política nacional do PT que defende a frente de centro-esquerda. Ainda nessa linha diz-se que é para apresentar uma “alternativa de esquerda” à política de direita de Sérgio Cabral. Como ele pode ser de direita se adota todas as políticas sociais do governo federal e é o maior apoiador de Lula e Dilma no PMDB? Fala-se ainda que é para combater o “adesismo” do partido ao governo estadual. Supondo que houvesse esse “adesismo”, ele seria um problema do partido e não de sua aliança com o PMDB. Quando a aliança foi aprovada não havia adesismo; agora, para justificar a candidatura própria, inventa-se um. Outro argumento levantado é o de que a candidatura própria seria para evitar que Dilma ficasse refém do PMDB. Esse argumento está em frontal contradição com a preocupação principal de Lula, Dilma e do PT, que é justamente a de reforçar a aliança com o PMDB. Por outro lado, para diminuir a dependência ao PMDB e outros partidos no Congresso, uma preocupação justa, o caminho é o de aumentar as nossas bancadas na Câmara e no Senado. Finalmente, fala-se às vezes que é para realizarmos e nos beneficiarmos mais das políticas sociais do governo Lula. Em primeiro lugar, a realização dessas políticas é uma ação conjunta da base aliada, dos governos estaduais e principalmente das prefeituras. Em segundo lugar, conquistar maior visibilidade para o PT nas políticas sociais do estado depende muito mais de nossa capacidade política de inserção e de execução.
Cabe ainda uma consideração final sobre o sentimento petista da candidatura própria que é onde, em boa medida, a fluidez dos argumentos daqueles que defendem o rompimento com o PMDB vai buscar guarida. Candidatura própria não é princípio partidário, mas uma questão tática e, como tal, definida pela situação política concreta. A tradição se deve a que, em nossa infância partidária, lançamos em todos os lugares candidatura própria. Não fazíamos alianças porque precisávamos mostrar nossa cara – a identidade do PT. O partido se consolidou e assumiu a tarefa de conquistar o poder. Surgiu a necessidade de avançarmos a nossa política o que fez com que adotássemos os conceitos de política de alianças, partido de massas e o programa democrático e popular. Com essa orientação, conseguimos eleger Lula presidente e estamos mudando o Brasil. Assim, o partido já superou a fase de afirmação, de acúmulo de forças e está na fase de partido hegemônico, à frente do governo e liderando uma ampla frente de centro-esquerda. Além disso, a cabeça de chapa para presidente é do PT. Portanto, marcar posição com candidatura própria isolada – pois nem os partidos de esquerda, da base aliada, estarão conosco – é uma ideia que não apenas nega a responsabilidade hegemônica que o PT tem, como também divide e enfraquece o partido no estado.

1 comentários:

Anônimo disse...

E teremos talvez a oportunidade de ver Garotinho reeleito, graças a Lindberg Farias...

29 de setembro de 2009 às 21:31

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